"Ídiche Kop" - "cabeça de judeu". Sua característica mais marcante é a ousadia radical com que questiona o impossível e o inexorável e defende a permanência no jogo, precisamente quando tudo já parece perdido".

Os judeus, em seu longo e atribulado percurso, experimentaram inúmeras situações de ameaça à sobrevivência, tanto do ponto de vista individual como coletivo. Tais vivências deram origem a uma refinada perspicácia, uma espécie de feeling particular que os próprios judeus passaram a chamar de "Ídiche Kop" - "cabeça de judeu". Sua característica mais marcante é a ousadia radical com que questiona o impossível e o inexorável e defende a permanência no jogo, precisamente quando tudo já parece perdido". Na introdução deste livro há um caso muito interessante (páginas 10 e 11) que merece ser transcrito: Conta-se de um incidente durante a Idade Media em que uma criança de um lugarejo foi encontrada morta. Imediatamente acusaram um judeu de ter sido o assassino, e alegou-se que a vitima fora usada para a realização de rituais macabros. O homem foi preso e ficou desesperado. Sabia que era um bode expiatório e que não teria a menor chance em seu julgamento. Pediu então que trouxessem um rabino com quem pudesse conversar. E assim foi feito. Ao rabino lamuriou-se, inconsolável pela pena de morte que o aguardava; tinha certeza que fariam tudo para executá-lo. O rabino o acalmou e disse: "Em nenhum momento acredite que não ha solução. Quem tentará você a agir assim e o próprio Sinistro, que quer que você se entregue a idéia de que não há saída". "Mas o que devo fazer?", perguntou a homem angustiado. "Não desista, e te será mostrado um caminho inimaginável". Chegado o dia do julgamento, o juiz, mancomunado com a conspiração para condenar o pobre homem, quis ainda assim fingir que lhe permitiria um julgamento justo e uma oportunidade para que demonstrasse sua inocência. Chamou-o e disse: 'Já que vocês são pessoas de fé, vou deixar que o Senhor cuide desta questão: Vou escrever num pedaço de papel a palavra "inocente" e em outro "culpado". Você escolherá um dos dois e o Senhor decidirá seu destino. O acusado começou a suar frio, sabendo que aquilo não passava de uma encenação e que iriam condená-lo de qualquer maneira. E tal qual previra, 0 juiz preparou dois pedaços de papel que continham ambos a inscrição "culpado". Normalmente se diria que as chances de nosso acusado acabavam de cair de 50 % para rigorosamente 0 %. Não havia nenhuma chance estatística de que ele viesse a retirar o papel contendo a inscrição "inocente", pois o mesmo não existia. Lembrando-se das palavras do rabino, a acusado meditou por alguns instantes e, com o brilho nos olhos que acima mencionávamos, avançou por sabre os papeis, escolheu um deles e imediatamente o engoliu. Todos os presentes protestaram: "O que você fez? Como vamos saber agora qual a destino que lhe cabia?". Mais que prontamente, respondeu: "E simples. Basta olhar a que diz a outro papel, e saberemos que escolhi seu contrário". Descobrimos então que a chance de 0 % era verdadeira apenas para as limites impostos para uma dada situação. Com um pouco da sagacidade da necessidade, foi possível recriar um contexto onde as chances do acusado de superar a adversidade saltaram de 0 % para 100%. Ou seja, a simples recontextualização da mesma situação permitiu a reviravolta da realidade. A impossibilidade é uma condição momentânea, e quem sabe disto não desiste. E nenhuma outra postura é e tão instigadora de criatividade e intuição quanto o "não desistir". O simples fato de permanecer no "jogo" abre opções que, fora dele, ao se "jogar a toalha", obviamente não existem. Este é o espírito da coisa. Não nos acovardar diante do caos. Não jogar a toalha. Utilizar a pressão a nosso favor (como os lutadores de Jiu Jitsu fazem, que é usar o peso e a força do adversário contra ele mesmo. Essa característica da luta possibilita que um lutador, mesmo sendo menor que o oponente, consiga vencer) e – acima de tudo – crer que, para Deus, nada é impossível.

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